Poeta nascitur, non fit [1]
Os poetas nascem, não se fazem
O dom da poesia é inata no homem; o da eloquência pode adquirir-se pelo trabalho e pelo estudo.
Que bom que “SINAIS” chega entre nós, pelas mãos de Emília Guerra, uma poeta sensibilizada com os amores e as dores do mundo, numa produção da Editora Arribaçã, que tem no corpo de editores dois poetas igualmente sensíveis!
O mestre Pablo Neruda dizia que “A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem”, e Emília Guerra nos diz no poema “Melancolia”:
Apocalíptica confissão
Semiótica mensagem
Fim do mundo trágico
Equilíbrio libertário
Desfile de cenário
De vida questionável
Caráter humano
De coisa sofismável
Epopeia de deboches
Observando o barulho
Em torno do que se cria
Aproveitando a melancolia
Embutida no grito
Fundo do poço
No desespero estéril
O drama emerge
Tanto fiz para amar
Tanto faço para me suportar
Além do que sou e serei
Sem dar cabo de mim.
William Wordsworth afirma que “A poesia é o transbordamento espontâneo de sentimentos intensos: tem a sua origem na emoção recordada num estado de tranquilidade.” A nossa poeta Emília faz-nos viajar quando constrói o seu poema “Viagens”:
Por fome, como
Me delicio nos sabores
Saboreio a brisa
Que alimenta meus pulmões
No ar que me refaz
Observo as paisagens
Todos os elementos
De minhas viagens imensuráveis
O Blog Os Guedes, em matéria de 19 de julho, transcreve uma fala do editor Linaldo Guedes,
“As reminiscência pontuam a maioria dos versos de “Sinais”, mas o tom nem sempre é o mesmo. Às vezes vem disfarçado de telurismo; noutras de nostalgia e em algumas de um acentuado lirismo.”
“Sua poesia é cheia de achados que encontram eco, com certeza, no leitor mais atento. Como ela mesma diz em um dos poemas do livro, “para os achados e perdidos/ Luz nas brenhas”. Emília é essa luz, que pode vir de diversas formas”.
Segundo Federico García Lorca “Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas.” No poema “Simbolos”, Emília Guerra diz:
Dentro de mim
Moram todos os símbolos
Que não parto ao meio
Nem encarcero no meu coração
: uso metáforas
Dou asas à imaginação
Emília Guerra faz da poesia o cerne da sua motivação: usa-a para conciliar, para amor, para ninar, para educar, para palestrar, para combater. Aliás nos últimos dias usou a sua poética para combater o preconceito, a intolerância, a falta de amor de alguns moradores de Cabo Branco, que tentavam impedir o acesso de pessoas com deficiência à praia. Esses moradores queriam obstaculizar o Projeto “Praia Acessível”, uma iniciativa inclusiva que leva, aos sábado, pessoas com deficiência para participarem de atividades com música e esporte na orla.
É por isso que temos dito: precisamos de mais gente fazendo poesia no mundo!
A propósito, Charles Baudelaire afirma que, “Todo o homem saudável consegue ficar dois dias sem comer – sem a poesia, jamais.”
Sem naturalmente desmerecer os prosadores, de que também tanto carecemos, Voltaire já dizia que, “Um dos méritos da poesia que muita gente não percebe é que ela diz mais que a prosa e em menos palavras que a prosa.”
Manoel de Barros nos conta que, “Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas – é de poesia que estão falando.”
Emília Guerra, na poesia “Graças” oferece-nos essa singeleza:
Minhas lágrimas molham o mundo
Na abundância do meu sentimento
Lava a mágoa
Na possibilidade renovada
Dessa metáfora exagerada
Me afogo na sensação
Da minha escuta Interior
Vida nova
Com a intuição
Na ação aparente
Defendendo o meu querer
Acontece que é de graça
O que de mais precioso recebemos
As graças que alcançamos
Sem pedidos a todos os santos.
A obra foi editada pela Arribaçã Editora, tem prefácio de Linaldo Guedes, orelhas de Lenilson Oliveira, arte de capa de Leonardo Guedes, fotografias de Antônio David Diniz, Projeto gráfico de Aristóteles Alves e impressão e acabamento Gráfica Ideal.
(Texto lido na apresentação do livro “Sinais”, de Emília Guerra, no auditório Celso Furtado do Tribunal de Contas do Estado, em 29 de agosto de 2019)
[1] Dicionário.priberam.org