Minha opinião é que Sérgio de Castro Pinto, antes de se tornar leitor, foi um menino com as antenas bem ligadas nos vários jogos que a vida lhe oferecia e a família facilitava. Isso incluía as diversas brincadeiras e a observação do mundo composto pelas pessoas mais próximas e mais distantes (A casa e seus arredores). Privilegiado jogo em que os seis sentidos são postos a funcionar para definir os caminhos da emoção e da criação, imbricados na formação da sensibilidade e da razão. Inspirei-me em Wordsworth, citado por ele: “O menino é o pai do homem”.
“O leitor que escreve” não é filho apenas do leitor, mas também da sua inteira relação sensual com tudo que forma o mundo ao redor. Escreve quem lê e convive, tem seu corpo e mente em atuação plena dos sentidos entregues aos jogos da vida. Assim vejo o leitor Sérgio de Castro Pinto que, depois de ler e viver para chegar à escrita, passa a escrever, lendo cada vez mais, para melhor ler e melhor escrever (O leitor que eu sou).
A propósito, o leitor que ele é nunca deixou que o escritor que se fez se transformasse em um ego maior que o seu mundo, que sua casa com seus arredores. Daí este livro, que agora li e comento, O leitor que escreve, representar, sem necessidade de maior análise, uma das mais evidentes facetas do escritor-cidadão Sérgio: a muito transparente fraternidade com que se dedica à resenha e avaliação de livros dos mais diferentes naipes de escritores e escritoras da Paraíba, do Nordeste, do Norte, Centro-oeste, Sudeste, com o mesmo desprendimento com que poderia falar e fala de Cortázar ou de Walt Whitman.
Aprendi muito com a leitura deste livro, não apenas das lições que dá de história e teoria, mas/mais ainda das lições de respeito às diferenças com que trata as experiências de vida, pensamento e linguagens de homens e mulheres de diversas correntes estético-filosóficas e faixas etárias, passando longe do corporativismo das gerações que se fecham em suas bolhas, subordinadas ao mecanismo segregacionista das trocas de favores. Pude observar revelações sobre autores e autoras que não conhecia nem de ouvir falar, sobre outros e outras de quem tinha uma opinião mal informada. Também pude me deleitar com ótimas reflexões sobre pedaços mal conhecidos da nossa história, sempre mal contada.
Bem, sou um leitor que está escrevendo, aqui enxeridamente, com o prazer preguiçoso da escrita, como gosto, para registrar a leitura de mais um produto deste incansável homo faber das letras brasileiras, Sérgio de Castro Pinto.
São João del Rei, 27/08/2020