Quinto livro lido em 2022: “Asas de terra e sangue” de Ivy Menon (crônicas, Arribaçã, 2021).

São deliciosas crônicas-memórias, principalmente sobre a infância de Ivy, mas também sobre alguns momentos de sua vida adulta até a atualidade. Privações, trabalho infantil, fome, comunhão com a natureza, alegria, afeto: facetas da vida rural no Brasil, retrato, na verdade, da imensa desigualdade que nos rege, em que poucos possuem latifúndios em que muitos trabalham analogamente à escravidão. Ivy, que também é grande poeta, oferece uma prosa enxuta, despojada, mas ainda assim pontilhada de lirismo e reflexões filosóficas.

Os relatos, por mais contundentes e doloridos, são devorados por nós com avidez, sinal de uma escritora que domina seu ofício. No passado e mesmo atualmente, os pobres figuraram na literatura apenas como objeto, mas cada vez mais vêm surgindo como sujeitos de suas narrativas. O livro de Ivy é um excelente exemplo disso.