Como as mulheres escrevem? Existem diferenças entre os folhetos escritos por homens e os folhetos escritos por mulheres? Não tínhamos acesso a obras literárias escritas por mulheres, a inserção delas no mundo das letras é recente. Só a partir dos anos 1970 se tem notícia de cordéis assinados por mulheres.
Na literatura de cordel, as mulheres se apresentam de como se sentem, de como absorvem a tradição, delineiam novos caminhos em que sua voz possa ser ouvida, rompem com a herança cultural que destinou à mulher a um lugar de silêncio. Trazem na linguagem experiências estéticas com temáticas atuais da comunidade, seja na construção do discurso, na construção narrativa, na estrutura ou no ritmo como também na linguagem oral, de modo a produzir, por um lado, um caráter lúdico em quem escreve e em quem lê e, por outro lado, utilizar a linguagem com mais sonoridades, mais ritmos, a partir de fatos esté-ticos e históricos que realçam as experiências humanas, sua cultura, atitudes, sentimentos, expectativas e ainda a forma de como ver o mundo.
Na Coletânea Cordel do Encanto Feminino, as mulheres cordelistas utilizam-se da forma de manifestação popular e deixam fluir sua poeticidade. Desse modo tentam mudar os rumos da Literatura de Cordel, considerada como propriedade privada dos homens.
As mulheres, agora, também têm vez e voz na criação de cordel. E é de, Maria das Neves Batista Pimentel (primeira mulher a publicar um cordel) a Anilda Figueiredo e Ione Severo que a literatura de cordel de autoria feminina se fortalece e se expande por esses sertões nordestino e Brasil afora. Assim, as poetas convidam o leitor para uma tomada de consciência, na construção da identidade do cordel feito por mulheres na atualidade de forma irreverente, contestadora e irônica, que se apresenta atra[1]vés de seus versos, já que o cordel é delas.
Porcina Furtado
Organizadora
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O livro “Cordel do Encanto Feminino – Coletânea de cordelistas nordestinas”, organizado por Porcina Furtado, pode ser adquirido AQUI