Conheci Daniel Sampaio ainda muito jovem, nas aulas do professor Amador Ribeiro Neto, na UFPB. Suas inquietações já mostravam o começo de uma longa e profícua caminhada e um mergulho nas correntes oceânicas da Poesia. Daniel cravou suas convicções em sólidas referências. Busca caminhos no que Ezra Pound chamava de Poesia de Invenção. Mirou nas vanguardas e nos clássicos. Percorreu as fronteiras do que seria um rosto tecido no aço. Aos poucos foi refinando as lâminas de uma poesia forte, estruturada no ritmo e no conceito de aventura planejada do Pignatari.
Soube explorar a poesia para muito além das suas teorias e sabe que, como escreveu T. S. Eliot, “a experiência da poesia, como qualquer outra experiência, somente pode ser transmitida parcialmente em palavra (…)”. É um poeta com pleno domínio dos espelhos. Mira e mira-se na reinvenção das imagens. Sabe, sobretudo, que dominar a palavra é também ser dominado por ela. Mergulha com a convicção de emergir em distâncias oceânicas no xadrez de espantos que sustenta os volumes da dicção já construída.
A poesia de Daniel é perturbadora. Não se submete ao cerco temático. Também não algema o conteúdo na forma. É poesia de quem não tem medo de dizer e diz. Extrai do bisaco cabralino, não a largura das asas, mas a extensão alargada do voo. Vai palmilhando um chão de ‘serpentes e cambraias’. Destituindo a exatidão de quem a todo instante recompõe seus alvos. Agita a baladeira dos sentidos com racionalidade e coragem. Aponta segredos na mira do olhar. Revela-se e esconde-se nas cores de Van Gogh. Enfim, mais um bom poeta que a Paraíba entrega ao Brasil.
Lau Siqueira
Poeta gaúcho radicado na Paraíba
* Este texto está nas orelhas do livro “Poetas em tempo de pobreza & outros poemas”, de Daniel Sampaio (Arribaçã Editora, 2022)
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