Arribaçã Editora é nossa

Francisco Cartaxo*

Uma editora em Cajazeiras? Que ousadia é essa? Quando falo da Editora Arribaçã, a desconfiança de interlocutores se manifesta em toque de ironia no riso, nos olhos, no silêncio. Deve ser bravata, pensam, deste suspeito cronista, um apaixonado devoto de sua terra.

Poucos acreditavam.

Por isso, vamos às raízes. Faz muito tempo que Cajazeiras não curte um clima de animação cultural como agora. No passado, houve momentos de efervescência pontual, sem a diversidade e a abrangência de hoje. Até os cegos de espírito sentem, mesmo quem é portador de motivos subalternos para negar. Não se fez mágica. Cajazeiras estava madura para essa ebulição cultural. As condições objetivas já afloravam na variedade de manifestações artísticas, exibidas aqui e ali. E hoje se completam sob o estímulo do poder público municipal, a prefeitura obedecendo o que determina § 3º, do artigo 1º da Lei do FUMINC, que destaca 2% da receita própria para incentivar atividades culturais. Houve prefeitos que menosprezaram esta ferramenta. O atual, não. José Aldemir cumpre a Lei. E ainda colocou Ubiratan de Assis na Secretaria de Cultura e Turismo, um intelectual do meio artístico e habilidoso gestor público. Flechou o alvo. José Aldemir merece nosso reconhecimento.

Há outros fatores.

Vivemos um bom inverno, se bem comparo, a chuva a molhar um terreno fértil, onde verdejam plantas e frutos sintonizados com a história cultural de Cajazeiras. A reforma modernizante do Teatro ICA nos dá eficaz suporte, adequado às atividades sem conta no criativo mundo das letras e das artes. Mais um exemplo: a Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL, após quase 20 anos de claudicação, enfim, foi criada no embalo desse clima benfazejo!
Faltava, porém, uma editora.

Agora, não falta mais. Havia quem não acreditasse. Eu vi sinais de ironia no canto dos lábios, em jeito de descrença… A Arribaçã Editora está aí. Só acendeu uma velinha, criada que foi em setembro de 2018, e já ostenta 16 títulos no mercado livreiro! Audácia de quem? De gente daqui mesmo. Linaldo Guedes e Lenilson Oliveira. “Lino e Leno”, no carinho intimista da professora Cristina Moura. Dois experientes jornalistas, sem bazofia ou estardalhaço, juntaram diagramadores, capistas, revisores numa equipe de profissionais da terra. Gente que pensa e faz, com engenho e arte. O resultado está no mundo dos livros. Beleza, a editoração tudo bem.

E a impressão?

Está bem ali. Em poucos minutos se chega à Gráfica Ideal ou à Gráfica Real. Tão modernas, respeitáveis e eficientes quanto as melhores da Paraíba. Afirmo sem parolagem. As duas já acumulam experiência e conceito na impressão de livros e de um sem número de produtos gráficos, encomendados de vários lugares do Nordeste. Arribaçã e gráficas robustecem a economia local. Poucos sabem disso, sobretudo os do litoral. Mas já começam a enxergar, espantados, o voo da Arribaçã e seu pouso em lançamentos de livros, em Feiras Literárias e no brilho do Troféu Empreendedor Cultural, que Campina Grande lhe outorga este mês!

Que bom começo!

Os livros editados pela Arribaçã vão de poesia popular a estudos acadêmicos. Há romance, novela, crônica, infanto-juvenil, história, biografia. E os autores? São de Cajazeiras, Sousa, Malta, Campina Grande, João Pessoa. E de mais longe: Brasília, Goiás, Rio, São Paulo, Minas Gerais. Efeito Arribaçã, minha comadre, que faz despertar sonhos acalentados há muitos anos.

(*) Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL.

(Publicado em: https://www.diariodosertao.com.br/coluna/arribaca-editora-e-nossa?fbclid=IwAR3nwLIkrm30LHIQ9aVcpKZbOzsAIyH0WlzK2v5C2wAH3Ap9L40C8rk8Fus)

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