A professora e historiadora Nadja Claudino marca a sua estreia no mundo literário com uma obra acadêmica de grande valia para todos aqueles que se interessam por história contemporânea, sobretudo na formação social dos sertões nordestinos na primeira metade do século XX, com movimentos próprios, como o cangaço, fruto de infinitos estudos e pano de fundo para romances, cordéis, etc.
Fruto da pesquisa para a sua dissertação de mestrado em História pela Universidade Federal da Paraíba no ano de 2017, com o título “As escritas de uma vida: discursos sobre a cangaceira Maria Bonita (1930/1938)”, a autora penetra no universo da companheira do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, revelando toda a sua pluralidade, indo da pecha de “mulher-macho” até a vaidade feminina.
Para tanto, Nadja Claudino utiliza-se de vários discursos (e análises dos mesmos), sejam de notícias de jornais da época, cordéis, alguns já baseados no que publicavam e nas narrativas que corriam boca a boca sobre os feitos de Lampião e seu bando, no qual ela estava inserida como uma das integrantes mais importantes, não só pela sua condição de “mulher do capitão”, mas pela sua bravura e coragem, contrapondo-se à ideia da fragilidade e submissão das mulheres de então.
Maria Gomes de Oliveira vivia em um sertão rude e patriarcal e o seu primeiro rompimento com esse statu quo, talvez conveniente para algumas das suas contemporâneas, foi sair de um casamento falido com Zé de Neném – história contada aqui – e se “juntar” aos cangaceiros e, mais que isso, se tornar a “rainha do cangaço”.
“Maria Bonita: entre o punhal e o afeto” trata das várias mulheres em Maria Gomes de Oliveira, morta aos 27 anos, no “massacre de Angicos”.
Que o leitor esteja preparado para mergulhar na pluralidade de “Maria Bonita”, “Maria de Dona Déa”, “Maria Déa”, “Maria de Zé de Neném”, “Maria do Capitão”, não só pelos epítetos que ela foi acumulando ao longo da vida, mas pelo que foi a sua história, mesmo com toda a romantização que a cerca, principalmente a partir da literatura de cordel, de ontem e de hoje.
(Texto de apresentação de “Maria Bonita: entre o punhal e o afeto”, Arribaçã Editora, 2020)