Paradoxalmente, terminei “O começo”, texto de abertura de “Asas de terra e sangue”, da querida Ivy Menon , ave de grande e potente envergadura que me leva num delicioso voo pela sua meninice. A menina em mim se entusiasma com o encontro e chora de alegria e melancolia, tudo num só balaio. Comovida, como vida, como nos versos simples de um antigo poema meu, com a sinestesia que também permeia toda a escrita de Ivy. Fecho o livro para degustar o já lido. Uma fatia por dia, decido, no desejo de que a delícia perdure.
Quando comecei a ler as histórias da Ivy postadas aqui, lembro-me de ter escrito nos comentários: “que vontade de editar um livro seu!”. A viagem pela infância de Ivy é única, não só pela beleza do enredo, o que não é pouco, mas pela qualidade de sua narrativa, com ritmo preciso e fisgadas no leitor constantes, acordando sentidos adormecidos, aquecendo a comida fria, tipo aquele requentado com tempero de mãe, vó…
Tanto amor na pauta e na pena! Passei a acompanhar suas publicações, escritas que me entusiasmaram também a registrar um pouco da minha história, mesmo que sem divulgar. Porque me é impossível não fazer essa relação – eu, menina do interior do interior -, ao me deparar com imagens e palavras como “hortelã” (Teté, eu menina, pedia chá de matelã à mãe) “lamparina” (daquela que vó Vasthi usava), “carroça” (daquelas que levavam o leite em casa), “fígado de galinha” (que minha irmã Méia – Edmeia Alcantara – sempre queria), a doença, a bebida, a violência, a voz doente e a não voz do pai percorrendo a casa (não chora, Eléia Alcântara , foram as bençãos que sempre amaram seu colo!), a boneca de cabeça quebrada (lembra da Lindinha de cara pintada, Méia? Eu gostava dela assim!), o berço, o milho… Desde ontem penso que minhas irmãs precisam ler esse livro. Élen Alcantara , principalmente você, penso muito em você quando leio a Ivy – nas suas fotos, nos seus netinhos, no paraíso que construiu.
Por fim, foi o amigo Linaldo Guedes quem teve o privilégio da edição, com o apuro e a competência de sempre. E lhe agradeço por isso, por me propicia ler com os olhos livres da menina que sou, balançando na rede de pano em vez de plugada na outra rede, fazendo essas outras conexões tão cheias de vida e poesia.
Agradeço a Ivy por aceitar o troca-troca literário, que me oportuniza voar com ela, aqui na Bahia, por tanto céu ao sul. Minha amiga, nem sabe o quanto somos irmãs e o quanto já lhe abracei sem nunca a ter encontrado pessoalmente. Paro agora esta escrita porque já me alimento de lágrimas – doces como o açúcar que melecava suas mãos de criança. Obrigada!
Absolutamente “como_vida” com a beleza do seu texto/retorno, Esther! Comovida com tua generosidade! Obrigadíssima
Fico feliz que tenha gostado, Ivy, querida!
Realmente Ivy Menon nos ensina a ver beleza na dor
Nos enche de empatia e nostalgia
Sensíveis, melódicos e terríveis, seus contos nos mostram quanta leveza existe nas asas sangrentas do amor.
Tive o privilégio de ler todos os textos de Ivy antes de se tornarem livro e confesso que ao ler o exemplar que carinhosamente ela me enviou ao meu abrigo em Barretos, onde me encontro em tratamento, voltei a chorar tantas vezes quantas chorei durante a leitura das crônicas ainda inéditas! Enebriado também pela magia das palavras com que Esther Alcântara se refere à obra de Ivy!