Claudio Daniel e a poesia de resgate da nossa brasilidade

Considero Claudio Daniel um dos grandes poetas contemporâneos do Brasil e da América do Sul. Não só pelo cuidado com a linguagem poética empregada em seus diversos livros, mas pela coerência estética e pela preocupação com a pesquisa, como é revelada em sua obra, seja ela em poesia – como mostram “Letra negra”, “Figuras Metálicas” e “Marabô Obatalá” – ou prosa, como vi no belo “Romanceiro de Dona Virgo”.

Essa preocupação com a linguagem e a pesquisa está em “Cantigas do Luaréu”, obra que chega agora às mãos do leitor pelo selo Arribaçã. Claudio começa sua apresentação citando Jorge Luís Borges, que convida o “o eventual leitor da Colômbia ou do Paraguai a nos remeter os nomes, a fidedigna descrição e os hábitos mais conspícuos dos monstros locais”.

Que monstros seriam esses? Claudio traz para o leitor poemas, como ele mesmo afirma, inspirados em pássaros e personagens míticos do folclore brasileiro, como o Uirapuru, Urutau, Caapora, Boitatá, Saci, Cuca, etc. São seres fantásticos que têm como origem crenças indígenas, mas que se espalharam por todos os sertões brasileiros, seja de qual região for.

Mário de Andrade saiu em busca de um Brasil ainda desconhecido na época, em pesquisa sobre nosso folclore, inclusive musical. Claudio Daniel pesquisa o folclore através da poesia. Não pense o leitor que este é um livro teórico ou um dicionário chato. Temos aqui um poeta no mais pleno vigor de sua produção literária, com poemas cheios de ritmo, como “Uratau”, enigmáticos, como “Rasga-mortalha”, líricos, como “O Boto”.

Sobretudo uma poética importante de resgate de nossas lendas e folclores, num momento em que toda identidade nacional está sendo destruída pela sombra do fascismo. Um livro que pode e deve muito bem ser aplicado em sala de aula de qualquer parte do Brasil, para crianças de todas as idades. Uma poética para se ler e se descobrir que ainda somos brasileiros.

 

Linaldo Guedes

Editor

 

Link do livro:

Cantigas do Luaréu

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