Por Esmejoano Lincol
Gente: o título do novo livro da escritora pessoense Débora Gil Pantaleão antecipa a temática que pauta os versos da autora nesse lançamento da Editora Arribaçã. Apesar de dizer que não gosta de “encaixotar” pessoas em tipos pré- definidos, os 40 poemas reunidos nessa coleção ensaiam panoramas plurais de indivíduos igualmente diversos. A obra virá a público em um evento de estreia hoje, às 19h, no restaurante regional Cheirimbom, situado no Bairro Jardim Cidade Universitária, na capital. O bate–papo com os leitores terá participação da poeta potiguar Bruna Cassiano. A entrada é franca.
Débora evoca aquilo que aplica em outra de suas profissões — a de psicanalista — para dizer que “catalogar” o seu painel humano limitaria o relato de Gente. Ela defende que suas influências vêm de indivíduos “inaprisionáveis”, seja pela impossibilidade de defini-los, seja pelo desserviço que se faria ao tolher aqueles que têm na pluralidade o seu maior trunfo, elencando como exemplos transsexuais e pessoas com deficiência. “Passa um filme na minha cabeça de quanto tempo que levei pra me racializar, me entender enquanto mulher negra, conhecer o diferente e entender que outros corpos dissidentes podem estar no front comigo: eu preciso estar aberta para ouvi-los também”, revelou Débora. Publicando desta vez com uma editora local — a Arribaçã, fundada pelo escritor e jornalista cajazeirense Linaldo Guedes —, a autora de Gente já esteve à frente de sua própria iniciativa literária, a Escaleras, que encerrou suas atividades na pandemia.
Ela afirma que, independentemente de estar, desta vez, vinculada a uma editora “conterrânea”, seus livros chegam para quem “faz sentido” recebê-los. “Sou uma pessoa que nasceu em João Pessoa, mas que morou no Sertão até os meus 10 anos de idade. Publicar Gente por uma editora sertaneja faz todo o sentido pra mim. Espero ir em breve a Cajazeiras para lançar esse livro, assim como fui para falar de Amorzinho [da Quintal Edições, lançado em 2023]”, conta Débora.
Exercitando em Gente sua produção em versos, a autora, que também possui trabalhos escritos em prosa (como as novelas Causa Morte e Repito Coisas que Não Lembro) sustenta que, além da diferença formal do texto, o modo como desenvolve seus trabalhos também passa por métodos distintos. A poesia chega mais rápido e mais fácil, segundo Débora, sendo a metade do que foi publicado por ela, do total de seis livros. “Quando eu tenho uma ideia geral, tudo fica mais fácil de fluir. Vou investigando os temas e formas que fazem sentido pr’aquela produção. Já a prosa é mais lenta, exige mais ‘pré-paração’, muitos mapas, ideias de início, meio e fim e muita pesquisa também”, ela detalhou.
Prestes a completar 10 anos de carreira como escritora e com um novo livro de poemas em fase de finalização — Ilha, capítulo final da trilogia iniciada com Amorzinho e Gente —, Débora celebra sua fase madura no campo profissional. No que tange à escrita, ela também se autointitula cientista, analisando objetos de estudo e tecendo tratados sobre eles por meio de sua literatura. “Sempre me permiti experimentar, seja na forma, seja no conteúdo. O meu balanço sobre minha própria trajetória seria esse: gosto de ser corajosa e vou mesmo com medo”, finalizou a autora.
GENTE
De Débora Gil Pantaleão.
Editora: Arribaçã.
Lançamento hoje, às 19h.
No Cherimbom (R. Rosa Lima dos Santos, 621, Jd. Cid. Universitária, João
Pessoa).
Entrada franca