Por Rose Calza
Li e adorei seu livro – nada menos que provocador de assombros e arrepios. tudo que senti, ainda é pouco nisto que escrevi: …ler linaldo guedes, em “cabo branco e outros lugares que não estão no mapa (ed. arribaçã, 2022) é como ter um dimmer ia, autossuficiente à mão: cada poema brilha sempre, se autorregulando em luminosidade e intensidade.
e atendi ao poeta. ele pede: “apenas me leiam. entendam o avesso de minha poesia (em álbum de família), “deixo minha poesia, sim , que é o que há de sobrar de mim” (em espólio). enquadramento perfeito estabelece o background de onde virão as palavras; “ai, ai ai, lá embaixo, o porto de capim acena e chora por mim”. (em art déco).entretanto, após o que pode ser regra testamentária, embarquei na diacronia e segui o menino (“lá vai o menino cruzando ícaros nas ruas”(biker), entre o litoral e o sertão; o mesmo que não entendia porque só havia pecado além das pernas das beatas (a festa da santa).
escondido em suas prisões, cresce e desponta o que brincava nas ruas de codó e despenca, como homem , ainda à procura do azul perdido em olhos de infância (em aracaju). e entre litoral e sertão, se faz homem, com a embrionária certeza do fado: ser poeta – “alguém tem que fazer um poema”. e assim ganhamos mais um livro, pois, “ todo mistério está nas chaves do abismo”, (terceiras intenções).
e o poeta coitado/cantante também se cansa: “um dia quero descansar de minhas dores”, (em refúgio). e para frágil situação amorosa “nem amor é remédio: “teus olhos já não movem mais minha dor” , pois, amar é morar longe, muito longe do partir”. o poeta declara sua solidão e escolhe como quer vivê-la – “eu prefiro as sombras da noite” (em migalhas). há tristeza bruta, há solidão escancarada (“o choro ficou livre, o riso cada vez mais preso” (em polo norte). e há desejos resenhados em melancolia: “bom seria que teu repouso fosse suave como pássaros colhendo alpistes e pousando a dor, mas vê-se o reflexo num espelho que teima espatifar lágrimas” , (em casa sem telha).
o mais tocante está no que eu chamo de dead zoo. em bica, há jacarés mudos, leoas na jaula, araras em voo para o nada, acuados em sua força primeva, autêntica e visceral, impotentes, empalhados, ali ,paralisados pelo que falta. o que falta, linaldo? tal ausência entre seres ilhados de amargura envolvendo todos , animais/humanos, por todos os lados, cobertos pelo lençol do “silêncio ruminando o bote na natureza humana”.
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O livro “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”, de Linaldo Guedes, pode ser adquirido clicando AQUI