“O homem que escrevia para ganhar prêmios”, de Lourenço Dutra, é mais que um romance. É uma crônica ficcional sobre os bastidores da literatura brasileira. Com muita picardia, Lourenço narra como funciona esse mundo literário tão fascinante e glamouroso quanto cercado de vaidades e estereótipos, como todo e qualquer segmento cultural ou social.
O título em si da obra já remete a uma das maiores vaidades de escritores e escritoras dos tempos atuais: a obsessão pela conquista de um prêmio literário. Claro, sabemos que ganhar um prêmio é algo que valoriza qualquer autor e pode catapultar seu nome às grandes editoras ou páginas e espaços nobres na imprensa falada, escrita e televisada. Diria até que é uma vaidade natural. Afinal, quem escreve quer ser lido, e que sua escrita seja reconhecida e aplaudida. O problema é que alguns vivem em função dessa obsessão para ganhar prêmios, gerando situações cômicas, risíveis, até.
Lourenço brinca com essa obsessão trazendo, como pano de fundo, todos os elementos que compõem os bastidores do universo literário. Estão lá, em suas páginas, todos os ingredientes desse universo. Como a dúvida do autor de como vai focar sua obra e se vai trilhar pelo politicamente correto para poder cair nas graças da mídia ou de algum segmento específico da sociedade brasileira.
Uma das caixas de redundâncias desse universo é o sarau literário. Lourenço narra pelo menos a realização de dois saraus, com a participação dos principais personagens do livro: Jaime e Zé Paulo. Em ambos os saraus, o desfile de personagens peculiares, exóticos até. Quem já organizou saraus sabe que não existe exageros na narrativa de Lourenço sobre o evento.
Lourenço aborda, com bom humor, outras coisas do universo literário. Como a escolha da editora, o autor ser escritor e ao mesmo tempo vendedor e divulgador de seus livros, a busca de espaço nos cadernos de cultura e até outra obsessão: a de ter sua obra adaptada para o cinema. “Escrevo por necessidade de aparecer ou de se expressar?”, indaga um dos personagens. A pergunta que não quer calar e resume bem o sentido do livro de Lourenço.
Linaldo Guedes
Editor