Por Egberto Vital
A obra do professor Johniere Alves Ribeiro emerge como um eco urgente na crítica literária contemporânea, uma urgência que reverbera além dos limites convencionais da academia. Originada de sua tese de Doutorado, sua jornada teórica não apenas traça um novo caminho para a compreensão do Nordeste brasileiro, mas também serve como um manifesto intelectual que desafia os paradigmas (pré)estabelecidos.
Ao debruçarmo-nos sobre as páginas deste trabalho, somos conduzidos por um percurso teórico que transcende uma simples hipótese de reconstrução histórica da região. Alves não se contenta em simplesmente desconstruir os estereótipos arraigados que folclorizam a imagem do Nordeste; ao invés disso, ele se propõe a reconstruir, reinventar e ressignificar a própria essência cultural da região a partir de suas produções artístico-literárias. Nesse processo de (re)inventiva simbólica, ele desafia os preconceitos e as visões simplistas que há muito tempo permeiam o discurso sobre o Nordeste, emergindo como um agente de transformação cultural e intelectual que vai de encontro aos exotismos que limitam o nordestino ao sofrimento árido do sertão sem desenvolvimento.
A abordagem do teórico é elaborada a partir de um diálogo crítico e criativo com as teorias legadas por Gilberto Freyre e Albuquerque Junior. Ao fazer uma releitura desses clássicos da crítica brasileira, o autor não apenas os contextualiza em um mundo contemporâneo em constante evolução, mas também os revitaliza com uma nova gama de interpretações e perspectivas. É uma jornada intelectual que respeita profundamente o legado desses estudiosos, ao mesmo tempo em que os transcende, incorporando novos referenciais teóricos, como a leitura proposta de um Nordeste rizomático, evocando os conceitos de Deleuze e Guattari, para dar forma a uma visão mais ampla e abrangente do Nordeste hoje, de um devir-nordeste.
Além disso, Johniere amplia o escopo de sua análise, explorando as interseções entre literatura, cultura e sociedade. Ao incorporar as reflexões de Justino sobre Literatura de Multidão e Intermidialidade, ele enriquece ainda mais sua discussão, revelando as complexidades e as nuances da experiência nordestina contemporânea. Este mergulho profundo nas águas da literatura nordestina não apenas desmistifica os clichês e estereótipos que há muito tempo exotizam a visão da região, mas também nos convida a repensar nossas próprias noções de identidade cultural e literária.
Johniere, de fato, transcende as fronteiras representativas da região nordestina, emergindo como um tratado sobre a natureza fluida e multifacetada da cultura brasileira. Ele nos desafia a abandonar as representações unidimensionais e estáticas do Nordeste e a abraçar uma visão mais dinâmica e expansiva da região.
É uma leitura que não apenas redesenha percursos teóricos e informa, mas também inspira e transforma, lançando luz sobre um Nordeste que é ao mesmo tempo familiar e estranho, antigo e novo, singular e plural. É uma obra que nos convida a repensar nossas próprias (pré)concepções e a embarcar em uma proposta teórica que nos leva além desse Nordeste que nunca houve.