+ LEITURA: “O HOMEM QUE ESCREVIA PARA GANHAR PRÊMIOS” (Arribaçã, 2022), romance de Lourenço Dutra

Por Mário Baggio

 

Lourenço Dutra foi corajoso, fechou os olhos, respirou fundo e meteu a mão num vespeiro. Tocou e escarafunchou uma ferida que todos aqueles que fazem arte (no caso, os escritores) têm no meio do peito: a necessidade de reconhecimento. Pelos leitores, pelos pares, pelos membros de grupos (quaisquer grupos), pelos frequentadores de redes sociais — ser reconhecido é o que todo escritor almeja. Para isso, é necessário um passo importante: conquistar um prêmio e que seja, de preferência, um daqueles cobiçados por seus pares. Uma palavra pode definir essa situação de maneira irrefutável: vaidade. Esse é o tema do novo romance de Lourenço Dutra, “O homem que escrevia para ganhar prêmios”.

Jaime, o personagem principal, tem ideia fixa: para ser reconhecido e reverenciado como escritor, precisa ganhar um prêmio, mas não qualquer um: precisa ser um prêmio respeitado, importante, especial, brilhante: “Os prêmios ajudam a te dar um certo destaque”. Zé Paulo, seu amigo, faz o contraponto, chamando-o, inutilmente, à realidade: “A se destacar em um meio literário empavonado, vaidoso e cheio de compadrios?” Essa conversa está na primeira página do romance e dá ideia do que virá adiante.

Com diálogos afiados — habilidade já demonstrada pelo autor em “Os aliciadores”, seu romance anterior — e usando e abusando de ironia e sarcasmo, Dutra constrói sua história ora com toques dramáticos de realismo (como as cenas entre Jaime e sua esposa e os duelos verbais entre Jaime e Zé Paulo), ora com escrachado deboche (os saraus literários, os programas sobre literatura na TV e no rádio). O autor reservou chumbo pra todo mundo: críticos, resenhistas, escritores (já premiados ou não, já reconhecidos ou não), feiras literárias, hilariantes títulos de livros, prêmios cobiçados (um deles é o Cágado de Ouro, outro é o Marítimo das Letras), formando um painel de situações que, de uma forma ou de outra, foram vivenciadas ou conhecidas por quem tem a literatura como ofício.

A meu ver, há um ponto destoante na obra de Dutra: o maniqueísmo exacerbado na abordagem do tema, que por vezes salta aos olhos (o prazer da escrita pela escrita, independentemente de reconhecimento, por exemplo, não é mencionado), mas isso não impede que o leitor desfrute do romance e se divirta com ele. E também reflita sobre o fazer literário num país em que os livros são produtos de pouca importância e cuja população pouco ou nada lê.

“O homem que escrevia para ganhar prêmios”, de Lourenço Dutra, é livro que agrada não só aos que se dedicam à tarefa de juntar palavras e frases numa página, mas também aos que se deliciam lendo-as.

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– O livro “O homem que escrevia para ganhar prêmios”, de Lourenço Dutra, pode ser adquirido no site da Arribaçã no seguinte link: http://www.arribacaeditora.com.br/o-homem-que-escrevia-para-ganhar-premios/

 

– A obra pode ser adquirida, também, no formato digital, em e-book, no site da Amazon.

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