Imagino o poeta lidar com as palavras através de ingredientes do fantasioso ou até mesmo pitadas de temperos imaginosos. Noz da palavra na moscada. Ato alho por metáfora, salgando à gosto, o sentido fabular. O sal da terra diz Milton por Ramalho neste admirável poético novo que se descortina através das palavras que lembra tanto do Sal, Salgar hipertextos, lendas e folclores, miniaturizados numa mesma linha; anima de peixes que engolem homens, fantasias de coisas que se transmutam, num fabri-multicolorido híbrido movimento do corpo que num momento é gente noutro, bicho.
Proibir? o doce do mel das palavras, que o manjar dos deuses oferece. Não é uma questão de referendar a cozinheira que sai do terreiro com os produtos da terra para o levante da cozinha do poeta. Miscigenar é o que faz Bartolomeu Pereira em seu Ruas de Sal, editora Arribaçã; gesta o misticismo das palavras que mudam de forma na poética mais prosaica e cotidiana. Neste dia-a-dia do tacho, os ingredientes se misturam; vejo o humor dele feito saltimbanco que é parte da comédia, ou do drama, são cenas da máscara do circo ou do círculo que fazem do trem doido, ai Minas Gerais, algo fabuloso em tirar ações agitadas da cartola. O poeta Bartolomeu cria na sua cozinha, esta feitiçaria onde as coisas interagem na mistura da fantasia com o real mais onírico.
(Fenando Andrade é jornalista e crítico de literatura. O texto acima foi publicado no site Literatura e Fechadura: https://www.literaturaefechadura.com.br/2020/06/21/livro-de-poemas-ruas-de-sal-eleva-a-poetica-ao-tempero-da-miscigenacao-por-fernando-andrade/)