Por Helder Pinheiro
Tô saindo da biblioteca e vejo a moto do correio partir. Passo na caixa e lá está o novo livro. Como sempre, abro na hora o envelope e fico iluminado por esta “fonte dos relâmpagos”. Olho a capa e corro para o sumário; percebo logo que a literatura de cordel, as cantorias são o carro chefe das crônicas.
Deixo de lado o capítulo de uma dissertação e me deixo iluminar pelos relâmpagos. Adoro ler os textos de Braulio Tavares. Há uma leveza, uma erudição invejável e, sobretudo, um equilíbrio nas avaliações. Primeiro, leio as duas crônicas sobre João Furiba, grande cantador, cheio de histórias, de conquistas, de mentiras gostosas. (Adoro mentira, invenção hiperbólica…)
Braulio reflete sobre folhetos que eu não conhecia, como “O bicho Mazagão”, de Rosil Cavalcante, “O homem que subiu em Aeroplano até a lua” (de Leandro? De João Martins de Athayde?); comenta obras clássicas da literatura de cordel, como a “Peleja de Romano com Inácio da Catingueira”; discute aproximações como “A sextilha e o blues”; fala das mesa de glosa, de Zé Limeira e da “A arte da glosa”. Também traz uma prosa cheia de sugestões sobre palavras como “oxente” e “vôte”. (Tem até um texto sobre “Os dez grandes jogos do Treze” – que os torcedores do Campinense não me leiam… o Treze que esta semana levou uma lapada lá no sertão…)
Braulio, que trafega com desenvoltura entre tantas manifestações artísticas – como criador, crítico, apreciador – nos traz a riqueza de um viés da cultura popular que é desconhecido de tantas pessoas. E as leituras, as reflexões do cronista mostram uma experiência cultural das mais ricas e encantadoras.
Oxente, livro bom da mulesta. Vôte!
****
Um detalhe importante: quem publicou o livro foi a ARRIBAÇÃ, editora lá de Cajazeiras. (Minha mãe chamava Arribaçã de Pomba de bando… e dizia que elas deixavam nos lugares por onde passavam centenas de ovos.)
Que esta Arribaça espalhe seus ovos pela Paraíba e Brasil.
FICHA: TAVARES, Braulio. A fonte dos relâmpagos. Cajazeiras, PB, 2022.