Por Ivy Menon
Quando as três caixas de livros chegaram, me deu frio na barriga, confesso. Cortei os barbantes e fitas adesivas, atabalhoada. Peguei meia-dúzia de exemplares, abracei, cheirei e os esparramei no colo, emocionadíssima. Depois, ali mesmo, sentada no chão da sala, perto das caixas, comecei a ler. E senti um PÂNICO absoluto: “impossível alguém gostar das minhas histórias de vida!”, concluí. Vergonha de ter escrito. Mais vergonha de ter publicado. E pavor de ter contado pra todo mundo que o Asas de terra e sangue estava chegando.
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Eu me lembro de que, entre os meses de maio e agosto, o frio era intenso no norte do Paraná. Para quem conhece o serviço da lavoura, na terra vermelha e molhada, sabe que é impossível trabalhar calçado. O barro gruda na sola do sapato e transforma botinas, congas e tênis em bolas imensas e pesadas que impedem o caminhar.
Saíamos de madrugadinha, morninhos do calor dos irmãos, amontoados na mesma cama, mais os cobertores de trapos e estopa. A mãe insistia para que colocássemos o conga, velho de guerra. “A friage nos pé dá dor de garganta, constipação e até peleumonia”, afirmava, ela. Obedecíamos.
Porém, quando descíamos do caminhão, direto para o eito da capina, éramos obrigados a renunciar aos pés aquecidos pelo amor da mãe, para deixarmos os congas junto aos embornais das marmitas. Ninho de conforto e certeza de que voltaríamos para casa. Não dispúnhamos de tempo para pensar na vida ou no frio que, inúmeras vezes, marcava desolação: abaixo de zero.
Aprendi, bem mais tarde, que quanto maior a facilidade de se adaptar, maior a chance de ser feliz. Eu me adaptava a tudo. Pisava o chão gelado e dava a primeira enxadada. Jogava a terra sobre os dois pés. Outra e mais outra enxadada. Vinham, no bolo de barro e ervas-daninhas, gelo e vontade de carpir mais rápido para reaquecer o corpo todo. Assim fui- e sou – durante todas as minhas quase seis décadas e meia de vida. Avalio o problema e meto a enxada.
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Os livros na mão. E eu, prostada, no chão da sala. Três caixas imensas! Latejava vontade de queimar tudo. A cara ardia de vergonha. O que fazer, então? Oras, claro que fiz selfie com os livros e postei nas redes sociais. Avisei aos amigos que meu Asas de terra e sangue estava disponível. Eeeebbbbaaaa!!!
Menos de seis meses se passaram, e TODOS os exemplares, que eu tinha, foram vendidos ou presenteados. Além do retorno do investimento financeiro feito, recebi tantas ALEGRIAS, tantas DECLARAÇÕES DE AMOR, CARINHO, ACEITAÇÃO que me emociona lembrar. Gratidão imensa pelas Asas, queridos amigos! Obrigada, obrigada, obrigada a todos vocês!
A felicidade é tamanha que estou pensando numa reedição. Quem sabe, segunda edição. Me aguardem, que volto, exibidíssima e DESCALÇA.
*A Editora Arribaçã ainda dispõe de alguns exemplares, de Asas de terra e sangue.
*Asas de terra e sangue, também editado em e-book, pode ser adquirido na Amazon:
https://www.amazon.com.br/dp/B09TCMWH67/ref=sr_1_1…