Depois de ser finalista do Prêmio Jabuti 2020, autor produz mais um poema longo: “1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite”
Por Guilherme Cabral*
Depois de ter sido um dos fianlistas na categoria Poesia do 63º Prêmio Jabuti, em 2020, com o poema longo Vida Aberta – Tratado poético-filosófico (Editora Penalux), o escritor paulista radicado na Paraíba, Waldemar José Folha, está lançando mais uma obra nesse gênero literário no mercado: 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite (Arribaçã Editora, 86 páginas). A previsão é de que o livro chegue no final deste mês.
“Detalhe: não haverá lançamento, como não houve de nenhum de meus últimos livros. Mandarei exemplares pelos Correios, gratuitamente, para as pessoas. Como há quem prefira comprar do que receber o livro, desse modo poderá fazê-lo diretamente da Arribaçã”, disse o autor. O editor, poeta e jornalista Linaldo Guedes informou que a obra vai custar R$ 50,00. O site da editora é www.arribacaeditora.com.br
“Eu enviarei exemplares para professores, intelectuais, poetas, jornalistas e cultura e a quem realmente se interessar por um poesia que se diz ‘tratado poético-filosófico’, portanto, não muito fácil”, comentou Solha. Ao avisar no seu perfil do Facebook sobre a disponibilidade da obra, basta o leitor informar sobre o seu endereço através do chat com o autor paulista que está na Paraíba desde a década de 1960.
J. Solha passou os dois últimos anos escrevendo o seu novo livro, mas garantiu ter obedecido a uma rotina de muito trabalho. “Começava a escrever por volta das 5h da manhã, inclusive nos sábados, domingos e feriados. Durante o tempo, a família me ajudou a suportar essa época de pandemia, que ainda tem sido uma drama no Brasil e no mundo. Por isso, faço agradecimento aos familiares e aos cientistas, porque se dedicaram a criar as vacinas contra essa doença. Como já tinha começado a escrever antes, falo de leve sobre a pandemia, como sendo um percalço para a humanidade”, avaliou ele.
A obra 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite é o penúltimo de uma série de seis. “Dei-lhe esse nome – 1/6 – como Fellini fez com seu filme 8 e Meio – embarcando, ainda, na ideia de que todos, como Moisés, fizemos uma travessia perigosa de nossos pais para nossos mães e fomos salvos no óvulo, ‘um cesto’, não mais ‘um sexto’, como intrigantes laranjas mecânicas, bananas de dinamite que somos”.
A capa de Leonardo Guedes ilustra o conceito que Solha abordou. “O tema central é o ser humano atravessando a vida e a história, ao mesmo tempo, com uma relação com aspectos filosóficos, como qual o sentido da vida e o que viemos fazer aqui”, afirmou ele. Além desse seu novo poema longo, já foi publicado anteriormente, nessa mesma linha literária, as obras Trigal com Corvos, Marco do Mundo, Esse é o Homem e Vida Aberta.
Solha mantém um hábito que preza muito, antes de publicar um livro. Trata-se de enviar os originais para algumas pessoas, no intuito de que avaliem o material e opinem. Desta vez não foi diferente, pois submeteu 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite a quem poderia dar opinião abalizada sobre o trabalho.
Ele convidou dois grupos, sendo o primeiro formado por Chico Viana, Astier Basílio, Joedson Adriano, Everardo Norões, Paulo Vieira e José Eduardo Degrazia. “Esses me estimularam e, também, me levaram a mais trabalho”, comentou o autor. O segundo foi composto por João Carlos Taveira, de Brasília, o paulista Armando Luguori Júnior e o mineiro Ronaldo Cagiano, que mora em Portugal. “Eles leram o poema longo já revisto, e me levou a sentir firmeza no que fizeram e que era hora de liberá-lo à publicação. Foi quando eu me lembrei de uma frase lapidar do grande pintor e ceramista Miguel dos Santos. Há 40 anos, no que entrei em seu ateliê, tive o impacto da tele que ele assinava me causara: É terrível isso, de o criador não ter esse momento de quem vê de uma vez, pronta, a obra em que tanto se empenhou”, recordou ele.
Sobre tal hábito das avaliações dos amigos, W. J. Solha ainda confessou ter ficado chocado quando, em 1974, ouviu do jornalista, poeta e cineasta Jurandy Moura (1940-1980), lhe dizer que os originais de seu primeiro romance, Israel Rêmora, estavam ruins. “Quando fui abrir a boca para argumentar, cortou-me: ‘Não vamos discutir. Quem escreve se envolve tanto com o que faz, que não tem noção exata do que fez ou deixou de fazer. Bote a data de hoje na capa, vá fazer outra coisa e daqui a seis meses releia o romance’. Fui escrever A Canga. Ai retomei o Israel e levei um susto: estava, realmente, péssimo. Refiz tudo, o volume ficou reduzido a um terço, levei-o a Barreto Neto, que, lacônico, me sugeriu: ‘Mande o livro para um concurso novo que tem ai, o Fernando Chinaglia, que, além do prêmio em dinheiro, dá a edição por uma grande editora, no caso a Record. Se você não pegar o primeiro lugar, não acredito mais em concurso nenhum neste páis’. Ganhei”, contou Solha.
Outro escritor que ajudou muito Solha nesse quesito foi o Ivo Barroso, que o levou a reescrever o romance Relato de Prócula e o rimance (romance com rimas) A Engenhosa Tragédia de Dulcineia e Trancoso. “Isso não deve ter sido fácil para ele, como não deve ter sido agora, por exemplo, para o grande poeta e prosador gaúcho José Eduardo Degrazia dizer-me que havia problem sério na estrutra do 1/6, falha com que, relendo o livro, concordei, esmerando-me durante dois meses, para saná-la. Só então fui atrás de Linaldo Guedes para acerta a publicação”.
O editor Linaldo Guedes elogiou a nova obra. “Solha é um escritor excepcional e está cada vez mais afiado, em termos de escrever poema longo, o que é muito difícil, por é preciso ter ritmo e imagens fortes para segurar o leitor. Solha tem completo domínio da linguagem poética, do artefato poético, além de ter erudição, inteligência e humildade. É um grande artista e poeta, sem esnobismo”, disse ele.
“Escrever um poema longo é uma coisa difícil de se fazer, pois é preciso sustentar o interesse do leitor até o fim”, admitiu Solha, que assina a apresentação do livro. Os textos da orelha são do poeta e crítico literário Ronaldo Cagiano e o posfácio de Linaldo Guedes. Na contracapa, há os seguintes comentários curtos: “Estonteante. É um tratado poético-filosófico sobre a humnidade. Revelador e necessário. Repleto de golpes que causam surpresa a cada instante”, escreveu o dramaturgo Paulo Vieira; “Livro que diverte e inquieta. Dinamite no arcabaouço de certezas”, disse Chico Viana; “O poemão, poemaço 1/6 de Laranjas Mecânicas, Bananas de Dinamite – Tratado poético-filosófico – já chega destroçando qualquer expectatva e como uma enxurrada me pegou, como leitor, e me arrastou (sem me deixar afogar) do começo ao fim”, testemunhou Armando Liguori Jr.
Autobiografia à vista
Em 14 de maio, o escritor Waldemar José Solha completou 80 anos de vida. Ele antecipou que já vem trabalhando, de maneira simultânea, em dois projetos, ambos para lançamento dentro de dois ou três anos. O autor vem preparando sua autobiografia. “Já tenho muita coisa para contar”, disse ele, que também escreve seu novo poema longo, o sexto, ainda sem título.
Solha pretende incluir, na sua autobiografia em prosa, o que denominou de “experiência de vida”. Informações que vão a partir do seu nascimento, na cidade de Sorocaba, no Estado de São Paulo, o período no município de Pombal, na Paraíba, que considerou “muito rico”, sua parceria em projetos com amigos, a exemplo de José Bezerra Filho e Chico Viana, e até sua atuação como profissional de múltiplos talentos, pois é artista plástico, atuou em filmes e é escritor. “Nunca imaginei de chegar tão longe, mas permanecendo com a lucidez, o que, no meu ponto de vista, é ideal na vida”, confessou ele, que atualmente mora em João Pessoa.
Para a autobiografia, Solha está “anotando coisas soltas” que lhe vêm à mente, oriundas do inconsciente, mas que garantiu terem “coerência interna”, segundo o próprio. “Vou selecionando o que tem importância para mim”.
*Matéria publicada no jornal A União, em 21 de agosto de 2021