O mistério no galinheiro [Resenha]

Por Thaïs de Mendonça

As histórias para crianças se classificam em duas espécies: as que são de interesse delas e as que não lhes interessam. É fácil descobrir quais se enquadram no primeiro e no segundo tipo: bastar lê-las para uma menina ou menino, na faixa etária a que se destinam. Se a plateia se mantém atenta, curiosa, desejosa de saber o fim da trama, a história é de interesse; do contrário, a plateia abandona o teatro e se vai.

“O mistério no galinheiro”, de Elinaldo Menezes Braga, com ilustrações de Ingrid Stephane de Oliveira, publicado pela editora Arribaçã, sem dúvida se alinha à primeira espécie. Fiz o teste com minha neta Isabella, de seis anos. Ainda nos primórdios do processo de alfabetização, ela seguiu a contação com interesse vivo, querendo deslindar o fim do mistério. Não apenas isso. Alguns dias depois, como faz com os livros que aprecia, pediu-me que o lesse novamente.

O mistério do sumiço dos ovos, no sítio de Dona Sinhazinha, não acontece gratuitamente. Inteligente, a trama propõe alguma dificuldade ao público infantil. O cenário, o sítio Cacimbas, onde vivem muitos animais, já oferece às crianças um universo pelo qual elas se interessam desde a mais tenra infância: os bichos são fofinhos, apresentam-se como amigos e encarnam características humanas possíveis de serem identificadas.

A dificuldade está no vocabulário. Meninas e meninos do Sul do país, das cidades, não sabem o que significa cacimba, engenho, alfenim, muito menos o que é um açude. Estas palavras aparecem logo nas primeiras páginas, colocando um desafio ao adulto leitor ou à própria criança. Um lugar sem energia elétrica, embora seja comum no interior de quase todos os Estados brasileiros, pode não fazer parte do cotidiano delas. Mas o drama contado por dona Sinhazinha é de uma época em que os animais falavam, um tempo em que não havia Facebook, Twitter nem WhatsApp, como o próprio livro menciona, fazendo a conexão entre o passado e o presente.

Desfilam ali vários animais brasileiros, inclusive o cassaco – que em algumas regiões é gambá e em outras, como Brasília e Goiás, é saruê – e o teiú que, vejo no dicionário, é o maior lagarto brasileiro, chegando até dois metros de comprimento. O livro de Elinaldo Braga nos dá assim a oportunidade de ampliar o conhecimento, de contar um conto diferente, incorporando novas realidades que podem estar distantes geograficamente, mas fazem parte do mesmo Brasil.

A história, que se prova ser da primeira categoria – a das que despertam o interesse das crianças -, termina com o galo cantando ao violão uma rima. Falta apenas anexar a partitura para que possamos entoá-la, tornando a experiência de ler O mistério no galinheiro um momento de alegria para as crianças falantes do português no Brasil ou na comunidade lusa. E contribuindo para expandir um pouco mais a cultura brasileira.

 

Thaís de Mendonça é jornalista, professora e escritora. Reside em Brasília.

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