Quais são os segredos de um jovem poeta, iniciando nas lides poéticas com a publicação de seu primeiro livro? Rainer Maria Rilke diria que “Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse; acuse a si próprio de não ser muito poeta para extrair suas riquezas”. De fato! Jefferson Araújo estreia na poesia utilizando-se da sentença de Rilke, indo buscar no cotidiano as razões para começar sua caminhada nesta seara e nos brindar com versos epigramáticos, às vezes, irônicos, noutras, e reflexivos na maioria dos casos. Como diz no poema que dá título ao livro, “a poesia não está oculta”.
E nem precisa olhar os lírios do campo para encontrá-la. Basta ter o olhar poético cheio dos arroubos da juventude e uma artesania que começa a se revelar nos versos que compõem essa coletânea. Falo em coletânea porque de fato é isso que está no livro de Jeffersom. Com poemas que falam do mundo animal, do próprio fazer poético, da questão social, do cotidiano, do mundo pandêmico, extraindo aqui e ali um erotismo sutil que só sabe fazer quem tem vocação para a poesia.
Construir o primeiro livro de poemas é sempre um problema. Quem já passou por isso sabe bem como é difícil definir estilo e como é mais difícil ainda selecionar os poemas que vão compor a obra. Alguns já enveredam pela poesia temática, mas ainda acredito que a melhor saída está mesmo numa coletânea. Afinal, o que é o primeiro livro se não uma carta de apresentação do poeta?
Jefferson inicia seu livro com poemas sobre o reino animal. Aqui ele não disfarça a influência de Sérgio de Castro Pinto, autor do admirável “Zoo imaginário”. Aliás, pensei eu que depois de Sérgio ninguém mais se arriscaria a escrever sobre o tema na Paraíba. Engano poético, o meu. Há sempre jovens dispostos a arriscar e Jefferson o faz muito bem. E brinca com as características de animais como a “Girafa”, o “Camaleão” e o grilo. No poema dedicado a este último, no último verso, não tem como não lembrar do célebre “As cigarras”, de Sérgio de Castro Pinto, do livro já citado. Mas Jefferson absorve isso e cria seu próprio mundo poético no reino animal. E homenageia a “Lagarta”, o “Gato”, “A Aranha” e até as muriçocas, sempre com bons resultados poéticos, com boas soluções.
Mas é preciso alçar outros voos! E Jefferson busca na analogia entre o poeta e o pássaro para mostrar como deixou o “embaraço do ninho”. Busca na descendência uma definição para seu ato de escrever. E depois sai debulhando poemas sobre os mais diversos assuntos e temas, sempre com singular artesania poética. Daí, vê a pipoca desabrochando aos pulos, em formato de flor. Ou a chuva como uma tinta incolor. Mas adiante é puro lirismo, ao falar da “Lua cheia”:
Beleza em forma de esfera
O abajur de Deus
A luminária da terra
A poesia de Jefferson Araújo é cheia desses achados poéticos, como no erotismo sutil de “Palíndromo”:
Neste negócio
De trás pra frente
E de frente pra trás
Prefiro o balanço
Das saias de Ana.
Ou, no mesmo estilo, em “Rabo de Cavalo”:
Marina
Ao desceres a ladeira
De lá pra cá e de cá pra lá
Perco a noção do tempo e do espaço
Envolvido neste balanço do teu pêndulo
Capilar
Pois
Ao desceres a ladeira
Acabo transportado para
Um mundo onde só há Marina
Caminhando de lá pra cá
E de cá pra lá.
Em um de seus poemas, Jefferson diz que “O lápis é o que me desenha”. Sim, saudemos, então, a chegada desse jovem poeta ao universo das letras!
Linaldo Guedes
Editor
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linaldo,
ia fazer o prefácio do livro do jefferson. infelizmente, por enquanto, estou sem condições de escrever, tanto que encerrei a coluna que mantinha no jornal a união nas sextas-feiras. jefferson tem talento e bons poemas. vai crescer mais.
abraços do
sérgio