Romance de Beto Seabra vai ser lançado em junho em Goiânia e Brasília; obra trata de desaparecimentos, política e amor em Brasília

As lembranças se misturam, os fatos são muitos. Mas é preciso escrever sobre todas as coisas que aconteceram. Vamos começar pelo fim. Aldair trabalha em uma plataforma de petróleo em Macaé, estado do Rio de Janeiro, e recebe um convite do amigo Milton, um pintor, que vive em Brasília e o convida para uma exposição de quadros para celebrar os 50 anos de carreira. Estamos em 2016. Ano do golpe jurídico-parlamentar, ou impeachment, como preferem alguns, contra Dilma Rousseff.

Ao ver o convite, Aldair mira um dos quadros nele fotografado, que retrata uma festa junina no início dos anos 1970, quando Brasília ainda era mais poeira e cerrado que cidade de concreto. A imagem o remete às pessoas que estavam naquela festa junina, e, portanto, dentro do quadro de Milton. Onde estará Nélio? Desapareceu e não se sabe se está vivo ou morto.

Na mesma época um crime chocou a cidade. O jornalista Mário Eugênio foi assassinado a mando do esquadrão da morte do Distrito Federal, formado por militares e policiais. O regime militar definhava e o País se preparava para eleger, ainda que de forma indireta, um presidente civil após vinte anos de ditadura. Estamos em 1984.

De volta a 2016, Aldair viaja para Brasília para ver a exposição de Milton e encontra o amigo Vicente, outro personagem daquele quadro pintado lá atrás. E reencontra Susana, sobrinha de Vicente, que Aldair conheceu adolescente, mais de década atrás, e que pretende fazer um documentário sobre a superquadra onde todos aqueles personagens cresceram. E onde o já dito quadro foi pintado.

Com um livro de memórias sobre a sua juventude em Brasília iniciado, Aldair primeiro vê em Susana uma concorrente, mas depois se convence de que os dois podem trabalhar juntos. Ele ajudando a dar corpo ao documentário dela. Ela inspirando-o a buscar as respostas que faltam para suas memórias, a começar pelo paradeiro de Nélio.

Outros fatos surgem: um caso de abuso sexual contra um amigo de infância de Aldair volta à tona, muitos anos após ser soterrado pelas lembranças. Além disso, Aldair e Susana decidem seguir no encalço de um possível responsável pelo desaparecimento de Nélio. Seria possível, 32 anos depois?

Mais uma pista para descobrir o destino de Nélio, vivo ou desaparecido para sempre, seria o destino de uma cigana, à qual o rapaz fora apaixonado na adolescência. Para onde teria migrado o povo dela, depois de deixarem Brasília expulsos pela polícia do regime militar?

No posfácio do livro, o escritor e pesquisador Marcos Fabrício Lopes da Silva afirma que o livro de Beto Seabra, diante de escolhas plurais, “nasce do desassossego autoral e experimenta descanso em um lócus territorial privilegiado: o florescimento do amor”.  Quer dizer então que ao falar de morte, desaparecimentos, história política e tudo mais, estamos na verdade é buscando uma resposta ao desamor?

“Lembranças de um tempo sem memória”, segundo romance do jornalista e escritor Beto Seabra, tenta enfeixar tudo isso em trezentas e poucas páginas. Quem ler, saberá responder se ele conseguiu.

 

Lembranças de um tempo sem memória, de Beto Seabra – romance

Arribaçã Editora (Cajazeiras – PB, 2024)

341 páginas

60 reais

 

Lançamento em Goiânia:

15 de junho de 2024 (sábado), às 16h

Livraria Tekoá – Av. Cora Coralina, 140, Setor Sul, Praça da Poesia, Goiânia

 

Lançamento em Brasília:

17 de junho de 2024 (segunda-feira), das 18h às 22 h

Beira Cultural (Bar Beirute, 109 Sul), Brasília

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