Sobre O coração pensa constantemente

Por Ivy Menon

 

Quando eu e Rosângela Vieira Rocha fizemos a troca de livros, não sabia qual, dos dela, seria destinado a mim. Então, recebi “O coração pensa constantemente” (Arribaçã, 2020). Gostei de tudo, na edição. Até do cheiro.

O romance relata/retrata o relacionamento de amizade entre duas irmãs. Nada de condescendência. Porém o liame que as manteve unidade, durante toda a vida, foi tecido de ternura e respeito. Nenhuma pieguice, juro. A história se desenrola a partir das lembranças da caçula, nas décadas de cinquenta e sessenta, e se estende aos tempos de agora, com o isolamento, exigido pela pandemia, e à morte da mais velha.

A autora ora apresenta o Brasil simples das brincadeiras, banhos de rios e carnavais das marchinhas e lança-perfumes, ora contrapõe seu descontentamento com a realidade político-social atual. Tudo, numa longa e íntima conversa com a irmã mais velha, que partiu há pouco. E nos convida a pensar sobre temas que permeiam todos os relacionamentos, inclusive os de amor. Apenas a título de exemplo, o romance, de maneira magistral, expõe e explora os sentimentos de inveja, cobiça, decepção, raiva e renúncia como próprios da natureza humana. Inatos ao “ser humano”. E, em O coração pensa constantemente, não se tem dúvidas: o amor prevalece.

Rosângela tem escrita densa, elaborada, sem, no entanto, se tornar inacessível ou cansativa. Li com vagar, obrigada à reflexão sobre minha própria vida. Sobre meus laços de sangue e de amizade. Findei totalmente encantada.

Confesso que fui obrigada a encarar o espelho: sou a “irmã mais velha”. Minha melhor amiga é a caçula. E o romance começa pela minha morte, queridos. Recomendadíssimo.

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