Em minhas mãos, “O leitor que escreve”, de Sérgio de Castro Pinto – que acaba de sair pela Arribaçã – editora lá de Cajazeiras. De Cajazeiras, sim, “a cidade que ensinou a Paraíba a ler”. E me encanto logo com a qualidade da edição e com o primeiro estudo do livro, como que a propósito: “Mário Quintana e a Geração de 45” – grupo a que Mário não pertenceu, “na escolha dos temas e na linguagem”, Sérgio avisa.
Difícil não vincular o que se vê nesse belo ensaio ao Mozart do “Amadeus”, de Milos Forman, quando ele mostra à Sua Majestade que estava na hora de deixar de lado as óperas sobre deuses gregos e de passar a falar de coisas pés-no-chão, com o que passa a descrever a ária em que se tomam as medidas ideais da cama para um casal de noivos.
“À margem do Arno, do Sena, ou do Tâmisa – diz Sérgio – , o poema flui melhor do que às margens do Guaíba, do Capibaribe ou do Sanhauá”?
Não.
O curioso é que em 33, o nazismo fechara o movimento Bauhauss, que se consagrara com arte aplicada ao cotidiano, os hitleristas voltando ao culto de seus deuses wagnerianos. Indiferente a essas tramas, finda a guerra – Sérgio diz – “os poetas da Geração 45 procuraram dar um basta ao desleixo formal que já tomava de assalto a cidadela modernista”.
Daí o nosso autor – graças a Cabral e a Quintana – exato em verso e prosa. O título – “leitor que escreve” – é amostra disso. Dificilmente um teórico livresco em tempo integral saberia tanto sem ter criado “Ilha na Ostra”, “O Cristal dos Verões” ou “O Cerco da Memória”. E vamos aos outros ensaios.
(Texto do escritor W.J.Solha publicado em sua página no Facebook, em 2 de julho de 2020)