Por Eliézer Oliveira
Neste ano ganhamos um novo professor de sociologia no campus do IFSul em Santana do Livramento.
O concurso público nos trouxe Vamberto, um autêntico nordestino do sertão da Paraiba, comprometido com as lutas latino-americanas e um verdadeiro guerrilheiro nas trincheiras da poesia engajada.
Faz pouco tempo que nos apresentamos. Já trocamos alguns dedos de prosa e na conversa vai e na conversa vem ele me presenteou com o seu livro de poesias PIQUETE SOLEDADE, publicado no ano passado e escrito nos últimos 15 anos. Tal como ele diz na sua dedicatória já somos colegas, amigos e companheiros.
Trata-se de uma obra crítica que se revolta contra tudo aquilo que desumaniza, oprime, explora e degrada a vida, seja a pandemia ou o fascismo, o capitalismo ou a falta de poesia, o torturador masoquista ou o desgoverno que queria acabar com o próprio país.
Num de seus versos (do sugestivo poema “Sem máscara de ar”) ele afirma: “poema é sintoma”. Sim! No sentido mais psicanalístico os poemas do livro são um sintoma da totalidade do ser social na qual eles próprios foram concebidos.
Seus poemas saíram do papel “às ruas” (nome de um dos poemas mais militantes do livro). A sua pegada é mais ou menos assim: O que esperas para agir? Vamos! Já às ruas!
Seus poemas são epidérmicos, tocam os corpos do povo trabalhador suados e queimados do sol, eles exalam os odores de quem vive na luta (labuta) do dia-a-dia por um pedaço de pão, corpos ensanguentados pela violência sistema, corpos sedentos de água e da alegria de viver, corpos invisíveis que ninguém vê, ouve, escuta, percebe, sente, pensa… Corpos que descobrimos escravizados aqui, tão perto de nós nos últimos dias.
Seus poemas são armas, bombas, sinais de alerta, gritos de resistência, reação indignada, revolta ética, explosão de ira de quem sente as dores do povo como suas. Dores que ardem em seu peito e que o conduzem ao combate, e ele bate, bate, bate sem dó nos inimigos do povo. É soco e soco!
São poemas que retratam os altos e baixos do próprio Brasil, a nossa depressão e a nossa luta, a serpente do fascismo e a sua derrota pela nova primavera, o sofrimento do povo e a cordilheira de lutadores que se erguem em toda a América Latina, o medo diante finitude com a qual a vida acaba e o prazer da sexualidade que salva e abrilhanta a vida, o sertão seco e a praia do litoral, enfim, a dimensão situada de cada poema e a sua abertura para outras interpretações/aplicações.
Seus poemas deixam transparecer traços autobiográficos que entrelaçam a vida individual na vida social e vice-versa. Isso contrasta com aquela visão positivista do sociólogo neutro, imparcial, plenamente científico (próprio do cientificismo), alheio ao objeto de suas análises, distante do mundo estudado, metodologicamente situado fora da realidade que pretende pesquisar.
Nada disto! Em seu livro poético Vamberto sente em suas entranhas as dores do mundo e reage contra elas. Do começo ao fim está emaranhado nelas e as registra na forma poética para que nós não as esquecemos (Memória! Trata-se de uma obra contra o esquecimento) e, sobretudo, para que também nós, os leitores, organizemos o nosso Piquete Soledade.
Recomendo a leitura com a frase final de sua dedicatória: “Que a poesia nos anime e nos fortaleça!”
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O livro “Piquete Soledade”, de Vamberto Spinelli Jr. pode ser adquirido AQUI