Sobre “Vovó também sabe voar”

Por Branca Claudino de Mesquita

 

Embora o acervo mundial da literatura infantil e juvenil mostre que assuntos considerados sensível hoje, a exemplo da morte, outrora já foram transmitidos sem ressalva para o público leitor, sendo que fosse feita qualquer distinção entre as faixas etárias. Atualmente, ainda é possível encontrar alguns entraves o que diz  respeito a abordagem que deve ser feita em sala de aula no tocante a esses textos.

Todavia, sabendo que a morte faz parte , quase corriqueiramente , do cotidiano de crianças, cada vez mais a literatura contemporânea, com uma considerável qualidade estético- literária, abarca temas tradicionalmente tabus, tornando-se um importante instrumento que auxiliam os leitores em formação  a lidarem com diversas situações conflitantes, dentre elas , a morte.

Por meio dessas obras, crianças das mais variadas faixas etárias podem não só ler sobre o tema, mas compreendê-lo a partir de suas próprias vivências, ao perder um parente, um animal de estimação ou um amigo. No universo infantil é bastante comum que a morte não aparece como algo com o fim em si mesmo; os personagens dos desenhos animados, por exemplo, retornam ao estado natural com muita facilidade, os heróis dos filmes e séries possuem superpoderes que os tornam imortais, e assim por diante. A literatura vem, em contrapartida, trazendo a ideia de finitude como algo real e parte da vida de todo ser humano, inclusive das crianças, que podem ser protagonistas nessas histórias e podem passar a compreender o que é a morte através do diálogo, da sensibilidade e da imaginação.

A temática da morte é normalmente considerada um grande tabu e por essa razão foi, durante muito tempo, afastada do universo dos livros infantis, ou esteve sujeita a abordagem fantasiosas que tinham como objetivo desviar a curiosidade das crianças de uma realidade que, apesar de dura e incompreensível, é inevitável. A fim de transformar essas abordagens , escritores e ilustradores têm dado bastante atenção a esse tema em suas obras. Através da Arte, o assunto tem sido abordado sob várias perspectivas.

Dessa forma, nesse processo de vivenciar o luto ou aceitar a ideia da morte, vários caminhos podem ser seguidos para que a criança compreenda a finitude da vida; e dentre eles está a literatura. Segundo Paiva, “a literatura mostra a importância de contar a verdade sobre a morte, principalmente às crianças, e poder oferecer um espaço para rituais de  despedida”.

Em “Vovó  Também Sabe Voar” (Arribaçã Editora, 2023),  da escritora Maria Valéria Rezende, uma pequena narradora-personagem nos apresenta a narrativa falando  da morte de uma estrela e pensando na avó. “Ontem eu vi na televisão a fotografia que um telescópio tirou de uma estrela morrendo. Estrela quando morre fica com jeito de flor ou de borboleta muito colorida e brilhante. Achei tão linda a morte daquela estrela!  Então fiquei pensado muito em minha avó”, p. 3.  Com isso, Maria Valéria Rezende aborda a finitude da vida com leveza e sapiência e apropriada às narrativas orais, envolvendo o leitor em uma atmosfera metafórica. A autora demonstra se preocupar com a compreensão implacável da morte, que é a única certeza que todos têm na vida

 

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O livro “Vovó também sabe voar” de Maria Valéria Rezende, pode ser adquirido no site da Arribaçã clicando AQUI.

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