Do primeiro momento em que tive contato com a poesia de Gringo Carioca (em um desses vários saraus que infestam o Rio de Janeiro) até os dias de hoje, a mesma espécie de mágica sempre acontece: paro tudo que eu possa estar fazendo para prestar o máximo de atenção em cada um de seus versos enquanto, simultaneamente, me delicio com a riqueza de suas performances. O tempo parece congelar. Eu pareço congelar, de tão embevecido que fico perante uma arte que me causa tamanha atração.
Daí que, sendo eu um artista reflexivo, não poderia deixar de filosofar sobre quais seriam as possíveis causas que me levam a admirar tanto o trabalho do Gringo. Creio que cheguei a duas prováveis conclusões: a primeira se apoia no fato de que tanto eu quanto Gringo somos dois apaixonados pelas artes e, em especial, por literatura, tanto que já perdemos as contas de há quantos anos estamos nos dedicando a estudá-las, incansavelmente, com afinco. A segunda conclusão está conectada a essa primeira: tanto eu quanto Gringo, devido a esses mesmos anos de arte e literatura em nossas costas, amamos experimentar possíveis novas formas de linguagem artística; buscamos, mesmo que seja utopicamente, o novo, ainda que manipulando/mesclando ferramentas, técnicas e até mesmo “escolas” literárias pertencentes à tradição.
Como diz um ditado popular, o sabor diferente, sem igual, de uma determinada iguaria não depende de seus ingredientes, mas da mão que os manipula. As cores das tintas que estavam à disposição de Van Gogh eram, por exemplo, as mesmas utilizadas por Leonardo Da Vinci, mas o resultado final… Quanta diferença! Onde quero chegar com isso?
O meu grande – e incessante – interesse pela arte do Gringo é resultado de um processo de identificação da minha arte com a dele, do jeito dele de fazer arte com a minha poiésis. E esta obra, mais uma vez, confirma tudo isso que falei até agora. Este livro aqui, leitor, que agora está indo parar em suas mãos, é biscoito fino. É arte cerebral, arquitetada verso a verso, palavra por palavra, com todo cuidado e atenção que só um artista maduro e consciente, tal como o Gringo é, pode ter a capacidade de produzir. Eu poderia até listar todas as figuras de linguagem, todos os trocadilhos, todas as formas fixas e não-fixas, todos os tipos de versos e todas as experiências poéticas visuais que, aqui neste compêndio, foram usadas e abusadas pelo Gringo Carioca, mas acho desnecessário, até porque eu teria que escrever um artigo acadêmico de quinze laudas, no mínimo, para tentar descrever uma arte que, na verdade, necessita mesmo é de dissertações e teses para estudá-la. E estas, no futuro, podem apostar, irão pipocar.
Por último, mas não menos importante, devo destacar uma façanha que é para poucos, pouquíssimos, raros indivíduos: o fato desse poeta artista ser um gringo norte-americano que, não só domina a língua portuguesa no dia-a-dia, de maneira informal, mas, com ela, a partir dela, consegue produzir uma arte de grande magnitude. Se para qualquer brasileiro já é difícil fazer uso do português, o que dizer de um estrangeiro que, não só aprendeu a falar fluentemente (e sem sotaque!) a nossa complexa língua, mas que também consegue brilhar usando esse mesmo idioma em poesia? Coisa de fera. Esse é o nosso Gringo. E essa aqui é a Arte, com A maiúsculo, do Gringo. Quer um conselho, leitor? Faça como eu: deixe de lado tudo o que você esteja fazendo e dê atenção total a este livro!
Marcelo Mourão
Poeta, crítico literário, mestre e doutorando em Literatura Brasileira
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O livro “Vozes & Visões”, de Gringo Carioca, pode ser adquirido clicando AQUI