“Um romance que você não vai querer parar de ler”

Por Marília Carneiro Arnaud

Acabo de ler “O coração pensa constantemente” (Editora Arribaçã, 2020), de Rosângela Vieira Rocha, um relato que me prendeu da primeira à última frase, numa teia urdida com a força e a delicadeza das grandes prosas.

O romance é narrado por Luísa durante os primeiros meses da pandemia do Corona vírus. Enclausurada em seu apartamento, com todos os medos e angústias que continuam nos assolando, Luísa elabora o luto pela perda da irmã dez anos mais velha, Rubi, que se foi após sofrer durante muito tempo com problemas pulmonares graves. Nesse processo, a narradora, que ora se dirige à Rubi – capítulos epistolares-, ora conta da relação amorosa que as unia e da vida em família numa pequena cidade interiorana nos anos 50/60, vai reconstituindo um tempo-espaço em que o (a) leitor (a) se vê enredado em doces e amargas memórias.

Da moça exuberante, assertiva, inteligente, por quem os pais e a própria Luísa nutriam uma admiração extremada, à mulher de atitudes provocativas, às vezes, extravagantes, e até rudes, que detonavam em Luisa inelutáveis sentimentos de culpa, um mosaico vai sendo tecido com sutileza e riqueza de detalhes.

Tudo passa por Rubi, por sua juventude, beleza e ânsia de viver: as relações familiares, a cidade, a natureza, os bailes, os Carnavais, o circo, o cinema, o footing, os namoros à antiga, o cartório do pai.

É comum que falemos dos nossos mortos com condescendência, e tapemos nossos olhos de memória para os seus defeitos ou para as mágoas que nos provocaram. Não é isso que acontece com Luísa. De forma honesta, ela nos exibe uma Rubi de frustrações, invejas, amarguras, que se evidenciam especialmente nos últimos dois anos de vida. Há um trecho em que, já hospitalizada, e consciente da proximidade do fim, Rubi pergunta à Luísa, então, a vida é só isso?, essa coisa banal e cansativa?, para quê tantos sonhos, afinal?, a vida é mesmo esse malogro, essa armadilha?

Ao final do romance, a confissão de um sobrinho – o filho adotado de Rubi – vem expor de forma devastadora os sentimentos ambíguos de Rubi em relação à Luísa.

Ninguém está preparado para a morte de um ser amado. É igualmente verdade que, quando perdemos alguém, remoemos vida afora tudo que deixou de ser dito, e buscamos esclarecimentos impossíveis, e buscamos em nós o que se foi com a pessoa perdida.

Há muito o que dizer sobre “O coração pensa constantemente”, um romance consistente e apaixonante, que você, leitor (a), não vai querer parar de ler. Parabéns, garota! Avante!

 

(Marília Carneiro Arnaud é escritora paraibana)

Deixe uma resposta