Não lembro como foi meu primeiro contato com Sérgio de Castro Pinto. Creio, no entanto, que foi na redação de A União, ainda em Jaguaribe. O menino tímido, iniciando no jornalismo, se atrevendo a ser poeta, diante de uma de suas maiores referências na literatura. Mas as pessoas com grandeza na alma desfazem qualquer solenidade ou mitificação em torno delas.
Sérgio é um desses! Sua grandeza está na alma, não na pose, nos títulos, na empáfia. Além de tudo é um brasileiro imenso! Um homem apaixonado pelo seu país a ponto de tremer de indignação com as injustiças. Tenho uma relação de afeto com ele, não só de admiração. E por aqui, neste espaço, só circulam meus afetos. Não dou ibope ao que não gosto.
Sérgio foi minha primeira referência na poesia paraibana, depois de Augusto dos Anjos. Em pouco tempo descobri que ele não era só paraibano. É universal! No meu primeiro livro, inclusive, tem um poema que dialoga com sua poesia. Aliás, meu primeiro livro só existiu por causa de Sérgio, que sempre me cobrava a sua publicação.
Quando editor do Correio das Artes, sempre recebia telefonemas de Sérgio, sugerindo publicação de poetas, opinando sobre minhas escolhas e comentando sobre nossa cena literária. Sempre em tom muito respeitoso. Nunca ouvi de Sérgio um conselho arrogante ou uma crítica a outros pares da literatura.
Pelo contrário! Uma vez, ao saber que um crítico tecia desconsiderações à sua poesia, se limitou a dizer: “Neguinho, isso não me incomoda!”
E percebia-se que realmente não incomodava. Sua poesia está acima dessas “briguinhas” de poetas para ver quem tira ouro do nariz.
O ouro de Sérgio está em sua poesia (às vezes cabralina, mas sempre Sérgio de Castro Pinto), nos fios de seus cabelos brancos, em sua dignidade, sua ética, sua coragem em manter uma coerência por toda uma vida dedicada à literatura, sem se empolgar com o canto de sereia dos modismos. Além de tudo tem uma mansidão na voz que espalha afetos por toda a poesia do mundo!
Quando iniciamos o voo da Arribaçã há dois anos, sonhava em publicar Sérgio de Castro Pinto. Aliás, ser editor tem dessas alegrias: o prazer de publicar autores e autoras que admiramos. Um dia recebo um telefonema de Sérgio, querendo publicar este livro – O leitor que escreve. Em pouco tempo a obra estava pronta, editada e impressa, para deleite de seus leitores.
A obra dá seguimento a duas outras publicadas pelo autor: A casa e seus arredores e O leitor que eu sou, compondo uma espécie de trilogia sobre a produção literária no Brasil. São textos publicados em jornais, porque além de professor e poeta, Sérgio também é jornalista e escreve em prosa como poucos.
Neste livro, estão as escolhas de Sérgio. Os autores e autoras que de uma forma ou de outra mexeram com ele, enquanto leitor. E aqui temos nomes como Mário Quintana, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade. Mas também temos a fina flor da literatura contemporânea, com nomes como Ana Adelaide, Marília Arnaud, Letícia Palmeira, Ângelo Monteiro, Rubens Jardim, Águia Mendes, Ruy Espinheira Filho, William Costa, Salomão Sousa, Astier Basílio, André Ricardo Aguiar e Jairo Cézar, entre outros.
Interessante que Sérgio não se limita a resenhar os livros desses autores e autoras. Ele faz reflexões sobre a literatura e a vida a partir de suas leituras, sejam de livros de prosa ou de poesia. Ou seja: ao longo das páginas de “O leitor que escreve”, vamos aprendendo mais sobre o ato de ler, de escrever e de se relacionar com a literatura e com o mundo de forma geral. Sérgio é nosso guia nesse aprendizado. E continuará sendo nosso guia por muitos outros livros.