Uma cartografia poética em que concreto e abstrato se misturam em Cabo Branco e outros lugares

Por Egberto Vital

 

O traço de Linaldo Guedes, em “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”, desenha mais do que apenas geografias: contorna silêncios e reverberações que nascem nas entrelinhas da Paraíba e alcançam o invisível, aquele território que mora dentro, onde o poema se entrelaça à paisagem, transformando cada recanto em um verso suspenso no espaço e tempo.

Com uma delicadeza que só a poesia pode sustentar, o eu-poético de Linaldo esculpe cada espaço não só com palavras, mas com um olhar que vasculha o indizível, atento ao que não se vê, mas que pulsa no ar — a brisa que atravessa a memória, o instante em que o sol e a lua se encontram na encruzilhada do sentir ao som de um sax que entoa o Bolero de Ravel. Uma poética que não se fecha em limites físicos: é expansão, saudade que abraça o passado e o futuro, liberação de um lirismo que ousa.

Além de uma celebração ao litoral paraibano, a poesia indomável de Linaldo se expande. A João Pessoa das ondas e das falésias abre espaço para outros lugares, aqueles que só o poema pode alcançar: os da alma, do desejo, da política, dos sentimentos que não cabem em mapas. O que Linaldo Guedes nos oferece é uma cartografia poética em que o concreto e o abstrato se misturam, criando um caminho a percorrer através da literatura.

 

GUEDES, Linaldo. Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa. Cajazeiras: Arribaçã, 2022.

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