Por José Nunes
Quando Solha anuncia a gestação de um novo livro – nos últimos anos ele tem optado por escrever poesia, poesia de alto nível –, aumenta a expectativa na espera de sua publicação.
Polímata, poeta frondoso, sua mente vagueia por muitos espaços. Ele não delimita temas para seus poemas, considerados basilares da nossa literatura. Assim o considero.
Apaixonado pelo Sertão mítico, se identifica com o que existe nesse reino encantado das caatingas. Usou a fórmula do abracadabra para falar desse lugar e de outros mundos.
É assim desde a peça de teatro Vermelho e Preto e Israel Rêmora, romance laureado com o Prêmio Fernando Chinaglia. Solha, quando lhe dá na veneta, escolhe o tema que agrada. Aí escreve um romance, poemas, peças de teatro e pinta quadros, porque ele flutua por muitas áreas e com abordagens diferentes. Em tempos atrás, produzia mais romances e peças de teatro, e menos poesia. A partir dos cinquenta anos, como uma árvore viçosa, a veia poética aflorou, reduziu a prosa para que a poesia ocupasse maior lugar no seu trabalho de artista.
Seus poemas, na maioria extensos, fatiados com metáforas e citações, nos levam a passear pelo reino encantado das artes. Solha tem a saliência dos gênios. No caso dele – posso exagerar no termo –, vai buscar, nas entranhas do pensamento humano, as imagens sublimares para falar de coisas até então desconhecidas ou esquecidas.
Certa vez, em relação a Jorge Luís Borges, Paulo Emannuel Rodrigues, crítico literário seletivo de leituras, falou que o argentino é escritor enciclopédico. Dados os mínimos descontos, ousaria cunhar o poeta Solha com semelhante denominação. Ele leu muitos livros, consultou muitas enciclopédias, dicionários, tratados filosóficos e teológicos. De tudo, leu um pouco. Se praticasse a literatura em outra língua, que não o Português, certamente andaria emparelhado com Borges, com Goethe, com Mann, com James Joyce.
Leu muito na solidão de Pombal, a partir de 1962. Desenhou e pintou quadros, faz esculturas de barro, escreveu para teatro, foi ator e diretor. Degustou livros clássicos em diferentes áreas. Devorou Gogol, Tourgueniev, Dostoiévsky, Tolstói, Tchekhov, Puchkin, depois Soljenítsin, Pasternak, de modo a se sentir quite com a literatura russa. Recorreu a Homero, aos filósofos gregos, com também a Ésquilo, Eurípedes e Sófocles, Shakespeare, e botou “os melhores helênicos no bolso”. Agarrou-se à Bíblia, em busca de respostas, e encontrou neste livro um grande poema escrito durante mais de mil anos.
Na sua trajetória de estudioso, tirou o atraso com os autores franceses, ingleses, americanos, italianos – debulhou A Divina Comédia –, recorreu aos alemães, considerando ter sido um sacrifício engolir Fausto, e foi aos portugueses com leveza, passando por Camões, com Os Lusíadas, Herculano e Eça, até chegar aos espanhóis e aos hispano-americanos. Porém nunca esqueceu os escritores brasileiros e paraibanos que ocupam lugar de destaque na sua biblioteca. Todo esse cabedal de autores ajudou a tirar a poeira da mente e guardar, na cabeça, os ensinamentos destes.
Desde cedo, produziu arte em alto estilo. Largou a pintura em 2004. No teatro, achando ter cumprido a sua tarefa, em 1990 abandonou os palcos.
Em oito décadas de poesia e de arte fervilhando nas veias, mais seletivo, Solha passou catorze anos consumido pelo fogo na criação de Trigal com Corvos, um livro inquietante.
Ao viajar das ancestralidades até os tempos atuais, de forma imperceptível, Solha nos leva a sonhar como ele e a navegar com as suas personagens em épocas e situações diferentes.
No final deste 2024, publica novo livro de poemas, um canto de revelações da fertilidade da sua mente, porque passeia por paisagens construídas a partir de muitos conhecimentos.
No livro Preciso de um poema novo, a começar pelo título, Solha busca algo novo, porque já leu tudo. Conhece heróis e vilões da literatura, mistérios da pintura e das ciências naturais, a teologia e a mística dos padres do deserto.
Em toda a sua obra, sobretudo a poética, Solha faz uma travessia pelo mundo da imaginação e das artes. A dinâmica dos seus poemas, como neste livro Preciso de um poema novo, é uma aliança com a arte, porque ele está sempre tentando decifrar o enigma das vidas para identificar a genealogia humana.
Acompanhamos o passeio de Solha pelas diferentes vertentes do pensamento e da criação artística porque precisamos de um poema novo.
À semelhança dos livros de poemas anteriores, Solha nos brinda com mais uma obra arrebatadora.